O PODER de PREVISÃO do Mercado

Por Manuel Vieira Siqueira de Arantes
Tempo de leitura: 5 minutos



No site do Banco Central, toda segunda-feira, é divulgado o Relatório de Mercado Focus, que nada mais é do que um retrato das opiniões dos principais agentes econômicos do país quanto ao futuro da economia brasileira. É nesse relatório que se encontram as principais previsões, por exemplo, em relação ao PIB, à taxa de câmbio, à taxa SELIC e ao IPCA.

Nessa pesquisa, o Focus realiza, toda sexta-feira, consultas junto a várias instituições, como bancos, consultorias, corretoras e associações, questionando esses agentes quanto às suas expectativas em relação ao comportamento das variáveis macroeconômicas mencionadas no parágrafo anterior. [1]

Os resultados desse boletim não refletem as opiniões do Banco Central, mas sim daquelas instituições que foram consultadas.

Mas, afinal, será que essas previsões são confiáveis? 

Em busca da resposta, foram consultados quatro Relatórios Focus de cada ano, desde 2002 até 2019, e foram comparadas as previsões que esses agentes fizeram para o PIB em cada ano.

PIB: Previsões  X Realidade 

- Previsões de Janeiro:

Será que os agentes, em janeiro, conseguem prever com exatidão o crescimento do PIB do ano que está começando? A tabela abaixo traz as previsões dos Relatórios Focus dos meses de janeiro, entre 2002 e 2019, e o crescimento real do PIB em cada ano. Todos os dados estão em porcentagem.
                                                                      
Verde (Muito Bom): erro de, no máximo, meio ponto percentual. Branco (Médio): erro entre 0,5 e 1,5 p.p. Rosa (Ruim): erro entre 1,5 e 2 p.p. Vermelho escuro (Muito Ruim): erro superior a 2 p.p.

Como é possível observar, os agentes, quando consultados em janeiro sobre sua previsões, erraram muitas delas, o que não é tão condenável, porque é muito difícil prever com exatidão o resultado de um ano que acaba de começar.


- Previsões de Junho/Julho:

No meio do ano, os agentes já conhecem o PIB do primeiro trimestre, o que poderia servir como um norteador das expectativas. Isso se comprova com os dados da tabela abaixo.


Essas previsões foram feitas no meio de cada ano, mostrando que a precisão tende a aumentar entre janeiro e junho/julho.

- Previsões de Setembro:

Em setembro, os agentes econômicos já têm conhecimento dos resultados do PIB dos dois primeiros trimestres do ano, o que, em tese, faria com que as previsões fossem mais acuradas. Abaixo, a tabela traz as informações.


As previsões, de fato, tendem a ficar muito mais precisas nesse período do ano quando comparamos a janeiro e junho/julho. Não houve nenhum erro superior a 2 pontos percentuais desde 2002.

- Previsões de Dezembro:

Talvez alguém se pergunte: qual é a necessidade de realizar uma previsão do PIB de um ano que praticamente já terminou? Isso ocorre porque o PIB de um ano, no Brasil, só é divulgado no ano seguinte, em fevereiro. Mas a pergunta tem fundamento, já que pouco importa a opinião dos agentes em relação a um ano que já terminou. 

Entretanto, mesmo que os agentes já tenham o conhecimento do PIB de 3 dos 4 trimestres do ano, as expectativas não costumam ser tão precisas. Como se pode ver, não houve nenhum erro crasso, mas o número de acertos foi menor do que em setembro.


Conclusão

Realizar previsões é sempre uma tarefa ingrata. Há quem diga que os economistas só não perdem seus empregos por que existem os meteorologistas, que também erram muito em seus prognósticos.

É curioso que as expectativas em setembro de cada ano se mostrem mais próximas da realidade do que as de dezembro, comportamento que pode ser explicado pelo fato de que, em dezembro, os agentes já estão concentrados no ano seguinte, dando menos atenção ao ano que já está no fim.

último Relatório Focus, divulgado em 10 de agosto, prevê um tombo de 5,62% do PIB do Brasil em 2020, mas esse número deve cair ainda mais, já que hoje foi divulgado que o PIB da União Europeia caiu mais de 12% só no segundo trimestre, número muito pior do que o previsto. 

São muitas as variáveis que podem influenciar as expectativas dos agentes, como a conjuntura política do país, as relações diplomáticas com parceiros econômicos, os projetos da agenda governista, as sazonalidades, dentre outros. Por isso, lidar com previsões implica conviver com os imprevistos.




[1] Os resultados contidos no relatório são calculados da seguinte forma: são feitas as medianas das previsões dadas por essas instituições em 3 momentos diferentes: há 4 semanas, na última semana e hoje (no caso, na sexta-feira, quando é feita a pesquisa). Assim, exemplificando, o Relatório Focus do dia 10 de agosto de 2020 levou em consideração os resultados da última sexta (7), da sexta anterior a essa (31 de julho) e de quatro semanas atrás (17 de julho), fazendo a mediana dessas informações.


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