A Cidade Administrativa de BH


O que pensar sobre a Cidade Administrativa ?

Por Lucas Ribas Vianna

A Cidade Administrativa de Belo Horizonte completou 10 anos de inauguração no dia 4 de março deste ano. Tendo sua construção iniciada em 2007 pelo governo Aécio Neves, a obra tinha como objetivo reduzir os custos do estado e centralizar as operações em um único local. Assim, o governo estadual deixaria de  alugar imóveis na região Centro-Sul da capital mineira, além de economizar nas áreas de limpeza, manutenção e telefonia. Tinha-se também que os funcionários, agora todos próximos de seus colegas das mais diversas secretarias, teriam um aumento na produtividade.


O local escolhido para receber a nova sede do governo foi o chamado "Vetor Norte" de Belo Horizonte, onde se encontram os bairros mais pobres do município. A construção da Cidade Administrativa fez parte de um plano do governo estadual que visava dar melhores condições à região. Fizeram parte do plano também a reforma da MG-10 e a reestruturação do Aeroporto Internacional de Confins. 

Será que, 10 anos depois da sua construção, podemos dizer se a Cidade Administrativa trouxe mais benefícios do que males para o funcionalismo estadual e para a região norte de BH?


Vetor Norte

Segundo o pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG (Cedeplar), Roberto Monte-Mor, a "Cidade Administrativa poderia ter impulsionado mais a economia do Vetor Norte". Ele afirma que não houve uma mudança estrutural na região, que continua como a mais pobre da Região Metropolitana. Mesmo que alguns indicadores tenham melhorado nessa última década, o mesmo foi bem inferior do que outros bairros. 

Um dos objetivos da construção da CA era o desenvolvimento da região decorrente do contato dos trabalhadores, sendo que a maioria deles com alto poder aquisitivo. O difícil acesso ao complexo associado com um descaso do governo fizeram com que a Cidade Administrativa se tornasse um feudo isolado de tudo o que circunda, com pouquíssimos serviços próximos. Não foram feitas políticas urbanísticas capazes de maximizar o potencial do complexo. 

Logo, o Vetor Norte da Região Metropolitana de BH não teve melhora considerável em sua condição social e econômica decorrente da construção da Cidade Administrativa, não alterando as condições de pobreza e atraso. 

A questão logística e disputas políticas

A utilização da Cidade Administrativa vem sendo palco de debate entre as gestões do estado. O primeiro governo que herdou a obra foi o de Antonio Anastasia, do PSDB (mesmo partido do idealizador Aécio Neves). Anastasia afirmava que a nova cede gerava grandes economias para os cofres públicos. Durante seu mandato os trabalhadores foram transferidos pouco a pouco para os novos prédios, para melhor organizar as estruturas.

No entanto, quando o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT) foi escolhido governador em 2014, a Cidade passou a receber menos funcionários, sendo que o próprio Pimentel passou a despachar do Palácio da Liberdade. O ex-governador dava como justificativa os altos gastos de manutenção e as acusações de corrupção e desvio de dinheiro na construção do complexo. 
A partir de 2019, no entanto, o atual governo de Romeu Zema restabeleceu as bases do governo estadual para a Cidade Administrativa, indo contra as acusações de Pimentel, voltando com o discurso de economia. 

A opinião do autor desse texto é de que a decisão do governo de Fernando Pimentel por não usar toda a infraestrutura do complexo da Cidade Administrativa é muito mais relacionada à polarização política, uma vez que o PSDB e Aécio Neves são os pais da obra, do que com questões financeiras e logísticas. Pimentel não apresentou nenhum estudo consistente que corroborasse com suas acusações. 

Preço da obra

A construção da Cidade Administrativa foi estimada inicialmente em R$ 500 milhões, contratada por R$ 949 milhões, mas custou R$ 1,2 bilhão. Com mobília e outros equipamentos, a conta chegou a R$ 2,1 bilhões. Em maio desse ano, Aécio Neves e mais 11 pessoas foram indiciadas por corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica e desvio de recursos. A obra seguiu o padrão brasileiro de irregularidades, além de contribuir para a gigante crise fiscal pela qual o estado passa. 

Quanto às economias geradas pela centralização da administração, existem poucas evidências empíricas ou estudos científicos que mostrem quaisquer resultados. 



O que esperar do futuro?

Existe um debate quanto a uma possibilidade de desativação da Cidade Administrativa como sede do governo, de modo que ela passaria a receber a Universidade Estadual de Minas Gerais(UEMG). 
No entanto, com todos os problemas pelos quais o estado está passando, essa mudança seria trabalhosa demais e também não seria a bala de prata para o desenvolvimento do Vetor Norte. 

Concluindo de modo mais informal: já que gastaram bilhões de reais em uma obra megalomaníaca superfaturada, é papel do atual governo e dos que o sucederem usar todo o potencial da Cidade Administrativa. Como já pontuado anteriormente, urge a necessidade de estudos capazes de medir os impactos financeiros e urbanos desses 10 anos da inauguração do complexo. 


Afinal, política pública sem evidência é política publica ultrapassada!

Disclaimer: A obra projetada pelo renomado Oscar Niemayer condiz com todo o atraso do arquiteto nas questões de iluminação, ventilação e fluidez da obra. 

Fontes


https://ufmg.br/comunicacao/noticias/cidade-administrativa-poderia-ter-impulsionado-mais-economia-do-vetor-norte

https://noticias.r7.com/minas-gerais/pf-indicia-aecio-por-corrupcao-em-obra-da-cidade-administrativa-08052020

https://www.otempo.com.br/hotsites/cidade-administrativa-10-anos-de-controversias/os-resultados-da-mudanca-no-governo/dez-anos-depois-cidade-administrativa-n%C3%A3o-%C3%A9-consenso
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2020/03/04/interna_politica,1125929/transformacoes-marcam-os-10-anos-da-cidade-administrativa.shtml

https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2020/05/07/interna_politica,1145372/pf-indicia-aecio-por-rombo-de-r-747-milhoes-na-cidade-administrativa.shtml

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