O machismo velado nas ciências econômicas
A economia te faz sexista?
![]() |
Esther Duflo, segunda mulher a vencer o prêmio nobel de economia (2019) |
Essa foi a pergunta levantada pela economista Valentina A. Paredes, uma das autoras do artigo "Does economics make you sexist?", que inspirou esse texto. Como estudantes de economia e homens, muitas vezes omitimos perguntas como essa por falta de responsabilidade e dificuldade de entender o problema em si, já que não sofremos com a problemática. Quando paramos para analisar a nossa realidade, entretanto, entendemos a importância da discussão do tema uma vez que a presença feminina nos cursos de economia é bastante baixa e a participação de mulheres em discussões é perceptivelmente ainda mais inferior.
Como um bons economistas, vamos demonstrar o problema com dados.
Choque de realidade
O trabalho que da o título ao texto analisou 7 universidades chilenas entre o período de 2017 e 2019, com estudantes de economia e outros cursos. Os autores montaram uma pesquisa para medir a sensibilidade dos estudantes quanto ao tema e a realizaram em intervalos de alguns meses, justamente para se ter a noção da evolução do pensamento dos alunos em meio ao curso.
Poupando o leitor de detalhes mais técnicos (aqueles que se interessarem o artigo estará nas referências), os autores encontraram, primeiramente, dentro da pesquisa os homens se mostraram mais preconceituosos no quesito gênero que as mulheres, resultado já esperado. O interessante foi que os resultados mostraram que os estudantes de economias se mostraram mais sexistas que os de outras áreas e que as respostas dadas ao longo do curso mostraram que os futuros economistas homens se tornaram mais sexistas durante a graduação. Esses resultados comprovam as hipóteses levantadas pelos autores do artigo e explanam uma realidade dura paras as mulheres que escolhem cursar o curso de ciências econômicas.
É claro que não podemos tomar as conclusões acima como fiéis à realidade brasileira, uma vez que não se foram analisados estudantes brasileiros. Mas é crucial entendermos a necessidade de discussão do tema e também como podemos ajudar a supera-lo.
O nosso papel
O preconceito de gênero se apresenta de diversas maneiras no ambiente acadêmico, de sorte que o mais presente e perceptível (pelo menos na minha realidade) seja o preconceito velado,advinda de uma considerável parcela de alunos e professores homens, quando mulheres se expressam; seja em congressos, sala de aula e até em conversas informais nos corredores dos prédios. A falta de mulheres modelos a serem seguidas na economia gera um ciclo vicioso de desestímulo para as estudantes, cuja a maioria das referências em trabalhos é de autores homens.
Dito isso, devemos fazer de tudo para criar um ambiente propício a interação de todos em quaisquer ambiente, dentro e fora da universidade. Ótimos trabalhos de economistas mulheres devem receber o crédito que merecem, cabendo aos professores fornecer listas de leituras plurais e inclusivas, não se atendo apenas à inclusão da mulher no meio científico.
Elinor Ostrom, primeira mulher a ser nomeada com o nobel de economia(2009) |
Dados e mais dados
Uma hipótese citada e confirmada no artigo é que a economia encaminha para mercados conservadores e com pouca consciência de gênero, se assim podemos dizer. É importante salientar também a importância social de políticas de inclusão de gênero, uma vez que aqueles que permanecerem omitindo a importância do problema se mostrarão como verdadeiros misóginos.
Imaginemos quantas profissionais mulheres de qualidade não perdemos pelo preconceito e pelo machismo encontradas por elas durante sua graduação. Como economistas ( ou quase isso) devemos reconhecer o machismo presente no nosso meio acadêmico como uma grande externalidade negativa e trabalharmos no nosso dia a dia para diminuir os impactos negativos no campo das ciências econômicas e obviamente da sociedade dessa questão estrutural brasileira e global.
Referências
https://www.nber.org/papers/w27070.pdf (paper discutido no texto)
Tema muito importante de ser discutido!
ResponderExcluir