O Dia do Trabalho e a Carreira do Economista

A Situação do Mercado de Trabalho e as Oportunidades dos Economistas


Por BEGES

 O Dia do Trabalho é uma data comemorativa, um feriado celebrado internacionalmente no dia 1 de maio para homenagear todos os trabalhadores pelas dificuldades que enfrentam cotidianamente e pela importância do seu sacrifício diário. No Brasil, contudo, o desalentador cenário econômico dos últimos anos tem tornado amarga essa data de celebrações, com o desemprego se mantendo em níveis altos desde 2015, ano em que a taxa de desemprego média foi de 8,5%. Em 2016, 2017, 2018 e 2019, a taxa de desemprego média foi de, respectivamente, 11,5%, 12,7%, 12,3% e 11,9%. A informalidade, que inclui trabalhadores sem carteira assinada, empregadores sem CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares, de acordo com o IBGE, recuou nos últimos trimestres, mas ainda atinge 38 milhões de trabalhadores.


Desemprego e incertezas batem à porta do brasiliense no Dia do ...
 A incerteza quanto ao futuro paira sobre os trabalhadores brasileiros já há alguns anos

                A situação do mercado de trabalho brasileiro, mesmo ruim, estava dando sinais de que melhoraria nos próximos meses de 2020. Segundo Maria Andreia Parente Lameiras, Carlos Henrique L. Corseuil e Sandro Sacchet de Carvalho, do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a retomada do mercado de trabalho brasileiro havia ganhado maior intensidade desde os últimos meses de 2019, com o aumento do número de postos de trabalho e a diminuição do número de demissões (acesse o texto completo). Contudo, o otimismo quanto ao futuro tomou um banho de água fria quando o coronavirus atingiu o país, trazendo previsões muito mais sombrias sobre o desemprego no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), a pandemia pode elevar a taxa de desemprego para 17,8% em 2020 .

Com vagas escassas e com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, quais são as opções de um economista?
Modelo de Currículo para Baixar e Preencher - Modelo 2020

Com a competitividade elevada, ter o melhor currículo se torna uma obsessão


1. Carreira Acadêmica

             A opção de se seguir a carreira acadêmica é a que talvez permita maior liberdade para os estudantes. São inúmeras as áreas de pesquisas que podem ser abordadas nos mais diversos centros por todo o Brasil e também no exterior.
           Aquele que deseja se tornar um professor/pesquisador no futuro, no entanto, abdicará de alguns anos de trabalho “real”, se podemos chamar assim os empregos com carteira assinada. O estudante irá se dedicar, após a graduação, a mais dois anos em um mestrado e a mais quatro em um doutorado, sendo esse o tempo mínimo de qualquer instituição. O ritmo de estudo é pesado, o que inviabiliza associar as aulas com o trabalho. A forma de ingresso nos melhores centros de mestrado e doutorado no Brasil é pela prova da ANPEC, que é realizada anualmente (geralmente em setembro) e cobra uma taxa de inscrição de 400 reais, que é cabível de isenção.
       Sendo assim, muito se pergunta da possibilidade de bolsas. A disponibilidade das mesmas depende muito do nível da instituição, que pode ser consultado no site da ANPEC. Centros de nota 7 (PUC-Rio, EESP/FGV, EPGE/FGV e IPE/USP) fornecem bolsas para quase todos os alunos, os de nota 6 (como UFMG, UNB e UFF) disponibilizam para quase todos, sempre dando preferência aos melhores colocados no exame da ANPEC. O valor das bolsas geralmente gira em torno de 1500 reais para mestrandos e 2400 para doutorandos.  Diferentes universidades contam com diferentes áreas de pesquisa (que podem também ser consultadas no site da ANPEC), as quais devem ser muito bem analisadas pelo candidato ao fazer sua inscrição. Um fato positivo é que o estudante pode escolher entre 6 centros, dando mais possibilidades e reduzindo de certo modo a pressão na hora do exame.
Quando se fala de salários, a realização de mestrado faz bastante diferença na remuneração dos profissionais das ciências sociais e aplicadas. Um estudo realizado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), usando dados da CAPES e da RAIS, apontou que, em 2016, as pessoas com mestrado na área de economia tinham um salário médio de R$ 13.770,00 e a empregabilidade era de 70%.
       O caminho para se tornar um professor universitário não é simples e necessita de muita dedicação e algumas renúncias ao longo do percurso. Quando se alcança o objetivo, contudo, o economista terá a estabilidade do funcionalismo público e uma flexibilidade de horários, dificilmente encontradas em outros ramos. Então para aqueles que gostam de estudar e passar conhecimento, a carreira acadêmica pode ser o caminho ideal.

2. Mercado Financeiro


O mercado financeiro está em alta nos últimos anos no Brasil, com muitas pessoas se interessando nos assuntos sobre investimentos e bolsa de valores. Muitos canais no Youtube e sites na internet oferecem cursos e textos falando sobre o mercado financeiro, ensinando como investir, como utilizar as plataformas das corretoras e como analisar o mercado em geral de forma básica. Porém, o economista possui grande conhecimento sobre análise de mercado, devido ao seu aprendizado acadêmico, e pode se sobressair no mercado financeiro, entre outros motivos, por sua bagagem em análise de risco e sobre investimentos em geral.

O economista pode trabalhar no mercado financeiro de forma autônoma, realizando investimentos ou fornecendo cursos sobre o mercado, mas também pode trabalhar em empresas que trabalham com investimentos, como as corretoras de investimento. Essas corretoras procuram pessoas formadas principalmente em administração e economia, por terem habilidades específicas em relação ao que ocorre no mercado. Nesses locais, o economista pode atuar como consultor de investimentos, analista de riscos, analista da bolsa de valores, analista de empresas que atuam na bolsa e também com análises dos índices econômicos.

3. Consultoria Empresarial

                Outro caminho que os graduados em Ciências Econômicas podem trilhar é o da Consultoria e Gestão Empresarial, que consiste no acompanhamento das operações de uma empresa ou instituição para o consecutivo aprimoramento das suas atividades. É comum que empresários iniciantes desejem conhecer suas probabilidades de sucesso, o perfil dos seus potenciais clientes e qual é a situação dos seus principais concorrentes. Nas empresas já bem estabelecidas, podem surgir problemas de ordem técnica, como ineficiência nas linhas de produção e má organização do sistema de distribuição das mercadorias. O consultor, quando acionado, deverá possuir as habilidades necessárias para solucionar esses problemas.
                O ICMCI (do inglês: Conselho Internacional de Gestão de Institutos de Consultoria) é o órgão profissional mundial de consultores de gestão, criado em 1987 com os objetivos de padronizar as normas técnicas e de interligar os institutos de consultoria de vários países (acesse o site). Atualmente, o ICMCI, que passou a ser chamado de CMC-Global, conta com 40 institutos membros ao redor do mundo, entre eles o IBCO (Instituto Brasileiro dos Consultores de Organização). O CMC-Global emite a certificação CMC (do inglês: Consultor de Organização Certificado) aos consultores que forem aprovados em seu exame, que inclui avaliações de conhecimento em consultoria e investiga a experiência do candidato na área. Possuir esse certificado não é obrigatório, mas constitui um diferencial no mercado de trabalho. O consultor interessado em adquirir o CMC pode solicitá-lo no site do IBCO (clique aqui para acessar o site). Caso deseje saber mais sobre o IBCO, o CMC e o mercado de trabalho na área de consultoria, recomendo a leitura da entrevista concedida pelo ex-presidente do IBCO, Cristián Welsh Miguens, em 2013, à Gauss Consultores Associados Ltda. Embora seja antiga, a entrevista contém muitas informações relevantes (clique aqui para lera entrevista).
                Apesar de ser uma profissão majoritariamente exercida por graduados em Administração de Empresas, a consultoria empresarial também pode ser desempenhada por economistas, engenheiros, contadores e profissionais graduados em outras áreas relacionadas. Existem muitos MBAs em consultoria sendo ofertados nas universidades brasileiras, o que associado à experiência na área, constitui um diferencial no mercado de trabalho. As empresas juniores (EJs) de consultoria empresarial, presentes em muitos cursos de várias universidades do Brasil, são importantes instrumentos para inserir os estudantes nessa área e torná-los capazes de conquistar o cada vez mais concorrido espaço no mercado de trabalho (clique aqui e conheça o Movimento Empresa Júnior).

4. Formulador de Políticas Públicas


                     Os assuntos econômicos de cada governo devem ser dirigidos por profissionais com conhecimento na área. Assim, muitos economistas são empregados nos Governos Estaduais e no Governo Federal com a função de direcionar políticas fiscais e cambiais, bem como para formular políticas públicas e colocá-las em funcionamento. Existem concursos públicos para ingresso em cargos administrativos de prefeituras, governos estaduais e no Governo Federal, como os Tribunais de Contas estaduais e o Tribunal de Contas da União. Contudo, para alcançar os mais altos níveis de autoridade na carreira pública, não existem concursos. Os governadores dos Estados e o Presidente da República nomeiam seus próprios economistas (Secretários e Ministros), como é o caso de Paulo Guedes, Ministro da Economia nomeado pelo Presidente Jair Bolsonaro e conhecido por ser seu "Posto Ipiranga" (seu braço direito). A nomeação assume um caráter muito mais relacionado à política do que aos conhecimentos técnicos do economista, sendo comum que as autoridades escolham aqueles profissionais com quem possuem maior afinidade e alinhamento ideológico. 

5. Área empresarial e Administração de Empresas        

                Por último, mas não menos relevante, os formandos de economia podem recorrer ao trabalho no setor econômico da área empresarial. Nesse emprego, o profissional tem a responsabilidade de desenvolver estudos e análises, levando em conta os cenários macro e microeconômico nos quais a empresa está envolvida. A partir disso, o profissional deve identificar os aspectos econômicos que podem afetar o funcionamento, desenvolvimento e crescimento da empresa. Por fim, se for dada a ele a autoridade, poderá tomar as decisões que melhor beneficiem a empresa.
Essa é uma profissão para a tomada de decisão do futuro da empresa, justamente por isso, para ingressar nessa carreira é necessário ter muita experiência. Logo, é primordial para almejar esse emprego estudar muito, buscar mestrados, doutorados, e ter experiência direta com o mercado. Pela tamanha responsabilidade em mãos, essa profissão possui um salário generoso desde o início de carreira. Vale ressaltar também, que a reputação e a recomendação têm espaço nesse mercado.
Geralmente, essa função existe somente em empresas de médio e grande porte, pois devido ao tamanho da empresa, já é possível ter setores administrativos mais bem estruturados. Em caso de pequenas empresas, normalmente quem faz esses estudos, que são esporádicos e ocorrem somente quando são convocados, são os consultores e auditores.


Considerações Finais

O curso de Ciências Econômicas, apesar de abordar temas muitos importantes, não oferece um grande leque de atuação na área. É comum que formados em economia acabem exercendo funções diferentes das de um economista, vindo a trabalhar no setor administrativo ou contábil de uma empresa. O mercado de trabalho é de difícil inserção para os graduados no curso e a concorrência com quem formou em engenharia e em administração é grande. Por isso, a especialização e o melhoramento do currículo passa a ser quase uma obrigação para quem deseja conseguir um emprego. Essa competitividade, apesar de incentivar cada estudante a se aprimorar cada vez mais, não é algo positivo quando se observa o número de candidatos que ficam à margem do mercado de trabalho. A concorrência só é algo bom quando existem muitas oportunidades, o que não é observado no cenário brasileiro atual. Quando as vagas são escassas, até profissionais bons e preparados podem não encontrar portas abertas, o que torna a escolha pelo curso de Ciências Econômicas uma decisão difícil de ser tomada. Portanto, quem deseja adentrar essa área deve estar consciente das condições desfavoráveis do mercado de trabalho, além de ser fundamental que a pessoa goste do assunto, pois só assim poderá se sobressair.

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