CRISE: O que fazer?

É hora de imprimir dinheiro?

Por Gabriel G. Nobre

       
Nessas últimas semanas, após declarações de algumas personalidades públicas, o assunto veio a todo vapor: "é hora de imprimir dinheiro?". Essa ideia, quando vista pelo senso comum, logo em seu primeiro momento é recebida como um pensamento maluco e autodestrutivo para economia brasileira como um todo. Entretanto, normalmente as pessoas são leigas ao assunto monetário e tem-se por premissa que expansão monetária é sempre ruim, em decorrência que, em tempos normais, um aumento indevido da moeda em giro na economia gera inflação e desvalorização da moeda perante as outras, justificando a rejeição comum da ideia. Diante disso, considere dado o convite para a abertura da discussão do conteúdo. Inicialmente, será explicado o contexto em que estamos e em que está se propondo essa política; em seguida, as opiniões sobre a medida, se deve ou não adotá-la acompanhada de uma breve explicação das bases da fala; e por fim, as considerações finais.


    PANDEMIA: UMA DEMANDA RETRAÍDA

Desde o fim do ano passado e o começo desse ano, com a descoberta e a propagação do covid-19, estamos vivendo uma situação nunca imaginada no mundo. O vírus espalhado mundialmente, leitos hospitalares esgotados em boa parte dos países, quarentena, pausa do setor produtivo, desemprego e nível tenebroso de mortes. Todo esse conjunto causado por essa pandemia fez com que entrássemos em uma situação delicada da história humana. Principalmente em locais onde o vírus está concentrado, é nesse locais onde realmente está acontecendo o conjunto citado, é nesses locais onde há uma crescente no desemprego, é lá onde a quarentena está sendo seguida a risca, e uma boa parte das pessoas e dos comércios estão respirando por aparelhos financeiramente. 

Consequentemente, esse choque do coronavírus influenciou diretamente a economia e o bem-estar social dos países. A economia dos locais atingidos está enfraquecida, podemos analisar pelos índices de preços, IPCA e IPCA-15 que constam índices perto de 0 e até negativos - esses índices correspondem ao aumento de preço dos produtos em todas as áreas metropolitanas brasileiras (incluindo as mais atingidas pela covid), se estão com esses resultados próximo a zero ou negativos, quer dizer que os preços dos produtos nessas áreas não tiveram alteração, ou se tiveram foram negativas. O motivo dessa baixa nos índices é a diminuição da demanda, provinda da falta de renda da população e o alto índice de desemprego, fazendo com que a população consuma menos e que pela lei de demanda e oferta cause uma diminuição dos preços. 

Observe que essa baixa é um choque de demanda que resultará numa crise - isso porque o produto interno diminui, a arrecadação governamental também, e a dívida aumenta em relação à nossa renda. Em resposta a crise, espera-se atuações do Estado para que possamos sair dessa crise e retomar a uma posição de crescimento econômico. O foco de qualquer Governo neste momento deveria ser assegurar a vida da população e buscar a superação da crise. Um meio sugerido por Henrique Meireles para a superação da crise é a já citada, criticada, e o foco desse texto: a impressão de dinheiro. 

QUAL É O SENTIDO?

O sentido é que, com a expansão monetária, o governo pode fazer as políticas que já vem fazendo de auxílio emergencial. Colocando mais dinheiro na economia e o distribuindo, o Estado fermenta a economia e com isso, faz com que a população consuma sem ter pressão inflacionária, uma vez que essa está mais que controlada e pelas expectativas praticamente negativa. Esse é o lado positivo dessa medida: corrigindo o choque de demanda, a economia tende a voltar a uma "situação normal", evitar uma grande recessão, sem entrar em detalhes do aumento do bem-estar pela seguridade social que o Estado dá aos que se veem totalmente atingidos por essa pandemia. Já o lado negativo, é que como dito pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, uma impressão de dinheiro pode provocar uma saída do campo de juros neutro, algo que é bem defendido no governo Bolsonaro por acreditar no investimento privado e ter a taxa de juros mais baixa da história brasileira.


OUTRAS SAÍDAS

Quando é tratado da disciplina de economia, raríssimas são as vezes (para não dizer nunca) em que todos os atuantes na área têm um mesmo pensamento para solução de algum problema. E esse caso não é diferente, apesar de Meireles ter vários apoiadores, há também economistas pensando de outra forma. Um exemplo é alguns que pensam que a melhor saída dessa situação de crise é a venda de reservas internacionais, nesse caso, a teoria por trás é: tem-se reservas suficientes recomendadas pelo FMI (fundo monetário internacional, importante na avaliação dos países) e poderíamos nos desfazer de uma fração para cobrir as dívidas e os gasto com a COVID-19. 

O problema dessa linha de pensamento é a perda de reservas, sendo que essas servem para quando o Estado precisa atuar contra um ataque especulativo desfavorável (as reservas servem como um colchão, podendo passar confiança em momentos de ataque), no caso do Brasil, é o que vem ocorrendo agora motivados pelas repetidas crises que vem sendo sofridas, como a econômica e a política - Falamos mais sobre isso no texto do Victor Roveran "FITCH RATINGS REAFIRMA NOTA RUIM AO BRASIL".

O e|investidor do Estadão postou no dia 08/04 a opinião de alguns economistas diante da saída da crise, deixo aqui o link, é de interessante leitura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De fato, essa política de impressão é muito incomum em períodos normais do ciclo econômico. Porém, é importante entender que estamos em uma situação bastante delicada e única da nossa vida pessoal e econômica, que convenientemente, essa política se encaixa. Mas, não se precipite, é preciso analisar com calma a melhor política, o fato dela ser aplicável não quer dizer que é a melhor. Logo, a grande conclusão que podemos tirar disso é entender que a economia não pode ser simplesmente ideológica, ela deve ser em sua maioria técnica e analítica para buscar os melhores resultados sempre. 

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