Manifestações, violência e resultados
Protestos violentos são mais eficazes?
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Por Lucas Ribas Vianna
No último dia 25, Geroge Floyd, um ex-segurança negro, foi brutalmente assassinado por um um policial branco na cidade de Mineapolis(EUA). O policial asfixiou Floyd por mais de 8 minutos, mesmo após a vítima suplicar que ele parasse pois não conseguia respirar. O motivo da abordagem? Uma suposta acusação do uso de notas falsas, que Floyd utilizara em um mercado.
Toda a ação foi filmada e compartilhada, e em pouco dias, tomou proporções gigantescas. Mineapolis, capital do estado do Minesota e uma das cidades mais importantes do país, se transformou em um ambiente de guerra: manifestantes usaram da violência e do vandalismo para expressar sua indignação com o racismo e com o abuso policial, de modo que esses temas, que sempre estiveram presentes nas sociedade estadunidense, foram escancarados para todo o mundo. Os protestos se espalharam para outras cidades importantes do país, sendo pacífico na maior parte do tempo. O que vem acontecendo é que, com o cair da noite, os indivíduos dispostos a agir de maneira mais incisiva, implementam o caráter anárquico e agressivo, vandalizando estabelecimentos, residências e o que mais verem pela frente.
Como de costume nos dias atuais, se iniciou uma grande polarização diante do caráter dessas manifestações. De um lado, aqueles que defendem que a violência exerce seu papel coercitivo a fim de se conquistar o que se pretende. Do outro, defensores da pacificidade, que repudiam os atos de vandalismo e as agressões.
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Manifestante em Minneapolis - Foto: Chandan Khanna / AFP |
Antes de tudo, a opressão dos policias contra a população negra é uma realidade nos Estados Unidos (fato que inclusive iniciou o lema "Black Lives Matter" a alguns anos) e ainda mais no Brasil, onde as mortes são ainda mais constantes, como a do menino João Pedro no Rio. O racismo é parte dessas duas sociedades, mesmo que se manifestem de maneiras distintas. Os protestos pelo mundo devem de fato ocorrer diante de toda a realidade descrita.
A discussão proposta nesse texto, todavia, é sobre as formas de protestar por uma causa. De que maneira será que um grupo atinge seu objetivo? Protestos violentos, como os iniciados em Mineapolis, tem uma vantagem em relação aos pacíficos? Ou será que os protestos não violentos são mais eficazes? Vamos então, novamente, consultar o que a literatura econômica nos diz.
O artigo, que se tornaria livro mais tarde, "Why Civil Resistance Works: The Strategic Logic of Nonviolent Conflict" da professora de Harvard Erica Chenoweth analisou 323 movimentos sociais entre 1900 e 2006. O resultado encontrado foi que as resistências não violentas se apresentam como duas vezes mais efetivas do que as violentas. Nenhuma manifestação pacífica que contou com mais de 3,5% da população falhou em atingir seu objetivo. Desse modo, ficou provado que, historicamente, movimentos não violentos têm mais eficácia do que os demais.
Protestos violentos certamente têm maior visibilidade a um curto prazo. Caso os manifestantes de Mineapolis se ajoelhassem (ação que se tornou símbolo da resistência negra nos EUA) na frente da delegacia de policia local, a repercussão seria inevitavelmente menor do que a atingida pelos protestos que vem ocorrendo. Em uma perspectiva de resultados no longo prazo, no entanto, manifestações pacíficas tem mais chances de conseguirem as mudanças sociais requeridas. Isso acontece porque a imagem de pacificidade de um movimento consegue engajar muito mais pessoas e, como mostrado no estudo, o número de apoiadores é vital para o sucesso. Muitos pais com crianças ou idosos não se sentem seguros em se arriscarem, sabendo que um movimento pode se transformar em uma cena de guerra em poucos minutos. Os atos de vandalismo também abrem margem para a parcela da população contrária a manifestação em questão denegrir o protesto, fazendo com que se perca parte do apoio da opinião pública.
Pode surgir a dúvida:"Mas a Revolução Francesa, o movimento social mais influente da história humana, foi violenta e teve sucesso, como se explica isso?". A resposta é simples: o belicismo da Revolução não obteve sucesso em findar com o absolutismo na França, de modo que desencadeou na Era do Terror Jacobina e posteriormente a ascensão de Napoleão ao poder. A instabilidade política social criada por movimentos violentos pode acarretar em uma sociedade com ainda mais problemas do que aquela encontrada antes do início dos protestos, com o protagonismo de figuras autoritárias, ressurgimento de grupos extremistas adormecidos e derretimento do bom senso. ( Qualquer semelhança com o Brasil pós-2013 não é mera coincidência)
Respondendo a pergunta que titula o texto: não, tornar um protesto violento não garante mais resultados, podendo inclusive ter consequências ainda piores do que os problemas pelos quais se estava protestando. As manifestações que estão ocorrendo pelos Estados Unidos e pelo mundo são em grande parte pacíficas, tendo apenas alguns vândalos que, em sua maioria motivados apenas pela baderna e pelo caos, denigrem a imagem do movimento e reduzem sua chance de realmente ter um impacto político e social.
Que a morte de Geoge Floyd não seja em vão e possa ser um estopim para uma urgente conscientização racial .
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