Chile e a ditadura Pinochet
Ditadura chilena e a era dos "Chicago boys"
Por Victor Roveran Bazzanella
Direito autoral: Agência Efe - protestos pela memória das vítimas de Pinochet
O Chile era um
país que, diferente dos demais latino americanos, havia presenciado um longo
período de tradição democrática. Antes da ditadura militar ocorrer, o Chile foi
marcado por presidentes de diversas correntes políticas, devido a grande polarização
do povo chileno, tendo os presidentes Carlos Ibáñez del Campo (1952-1958) -governo
populista, Jorge Alessandri (1958-1964), Eduardo Frei (1964-1970) e Salvador
Allende (1970-1973).
Para
entendermos um pouco mais sobre o período precursor da ditadura militar chilena,
devemos analisar a situação econômica do país, que até 1929 era exclusivamente
dependente da extração de minérios, mais especificamente o cobre. A extração e
exportação do cobre continuou muito forte mesmo após a grande depressão, sendo
que em 1947 o produto representava 50% das exportações. Porém em 1930, devido a
grande crise, o país passou a implementar o modelo da substituição da
exportação, já que o cenário externo não era nada favorável.
Cobre chileno
A criação das
industrias chilenas teve como foco os produtos têxteis, e mesmo com grande
dificuldade financeira, o estado conseguiu auxiliar os aglomerados industriais
financeiramente com instituições públicas, dando suporte para a
industrialização básica do país.
Mas podemos
dizer que a contribuição para a instauração da ditadura Pinochet veio por parte
do governo de Salvador Allende. O presidente Allende não foi o responsável pela
ditadura evidentemente, mas o cenário econômico gerado foi propício para uma
justificativa (mesmo que injustificável) de golpe. O aumento desproporcional do
salário mínimo e as ideias marxistas, aliadas a uma péssima reforma agrária foram
um pacote perfeito para os militares (que se prepararam para tomar o poder bem
antes de 1973) e para os EUA (preocupados com o surgimento de uma nova Cuba e a
emancipação comunista na américa) praticarem o golpe militar.
O aumento do
salário mínimo gerou uma inflação enorme, que chegou a alcançar 300% ainda depois
da tomada de Pinochet, a reforma agrária não diminuiu a desigualdade de terras e
de renda no país, e os pensamentos marxistas foram uma desculpa para a CIA, com
comprovação de apoio financeiro e militar divulgado por documentos expostos em
1999 pelo próprio governo americano para que a ditadura militar chilena fosse
concretizada.
No dia 11 de
Setembro de 1973, Augusto Pinochet tomava posse do governo chileno no palácio presidencial
La Moneda, que fora cercado e bombardeado pelos militares. Para sua equipe econômica
convocou os Chicago boys, pesquisadores e professores da Universidade de Chicago
que tinham ideias econômicas liberais, baseadas na teoria monetarista de Milton
Friedman, que participou da equipe de Pinochet.
Golpe Militar em 1973
De início,
aplicaram privatizações extremas, visando diminuir a participação do estado no
PIB chileno, participação essa que era de 12%. Com isso o desemprego acabou
aumentando, variando no período entre 1973 a 1990 uma taxa de desemprego de 8 a
20%, tendo uma média maior que a de muitos países latino-americanos.
Além disso, os
salários desvalorizaram cerca de 60%, e a desigualdade de renda aumentou muito,
potencializada pelas privatizações em período de crise, já que poucos grandes empresários
tinham o capital necessário para comprarem as empresas estatais. Por outro
lado, Pinochet modernizou o estado, aumentou o investimento privado interno, e
graças ao aumento do preço do cobre, a balança comercial veio a ser positiva
nos anos 80, obtendo uma taxa de crescimento do PIB de 7% ao ano, e mantendo-se constante até 1989.
A ditadura chilena
foi uma das mais violentas e brutais da história da América Latina, resultando em
80.000 presos políticos só nos 3 primeiros meses de governo. O número de mortes
varia, devido a falta de precisão por ocultações de mortes por parte dos militares,
sendo estimado entre 30.000 a 50.000 mortes, 32.000 pessoas torturadas e mais
de 10.000 pessoas exiladas.
Repressão policial
O grande
número de mortes e a forte repressão contra a população mais pobre, junto da
grande desigualdade social causada foram providenciais para que o plebiscito
organizado pelo governo em 1988, criado para decidir se ocorreria uma eleição
democrática ou não, fosse o mais votado da história, com uma participação de
mais de 80% da população, resultando na saída do governo com mais de 55% de
votos favoráveis a eleição.
Em 1990, por ordem do presidente eleito, foi
instaurada a “Comisión Nacional de Verdad y Reconciliación”, também conhecida
como a Comissão Rettig. O informe final da Comissão, em 1991, apurou em torno
de 3 mil violações aos direitos humanos, sem apontar culpados (SADER; JINKINGS,
2006).
Os resultados
sociais foram catastróficos, e a desigualdade social é um problema para o Chile
até hoje, fora as descobertas de enriquecimento ilícito de Augusto Pinochet
divulgadas em 2005, com relações de corrupção junto ao banco de Londres, posições
indiretas com a Al Qaeda, abertura e fechamento de mais de 128 contas bancárias
em 9 bancos americanos, posse de barras de ouro com valor de 190 milhões de
dólares no banco de Hong Kong, empresas privadas no Chile no nome de sua
família e mando de assassinatos diretos em seu nome.
Augusto José
Ramón Pinochet Ugarte morreu no Dia Internacional dos Direitos Humanos, resultando
em passeatas comemorativas por todo o território chileno.
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